segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

DISTINGUIR A MENTIRA, PROPRIAMENTE DITA, DA FANTASIA

















Walkiria Assunção
Segundo G. P. da Silva, havemos, no entanto, de distinguir a mentira, propriamente dita, da "fantasia". Distinguem-se pela astúcia. Mentir é pois fantasiar qualquer coisa astuciosamente.
Mas a fantasia pura tem a sua origem na imaginação pura. Falsear a verdade é mentir. Fantasiá-la, não.
A verdade dura, sem a fantasia é, muitas vezes, intolerável. Vesti-la, dourá-la com a nossa fantasia, é tornar a verdade bela e acessível, menos agressiva e portanto mais tolerável. Agir assim não é mentir.
É preciso, por isso, considerar ainda que as crianças muito ricas em imaginação mentem, às vezes, para dar franco escoamento às imagens que se associam e se multiplicam no seu pequenino cérebro. É um movimento da alma, tal como o corpo que salta, pula ou corre. Nesse tipo de crianças é necessário muitas habilidade pedagógica para evitar a cultura em excesso da ficção.
Na mentira há ainda a considerar os casos verdadeiramente patológicos. Isto é, os casos em que a anormalidade ganha domínios daquilo que em medicina mental chama mitomania e que, não raro, surge de um desequilíbrio psíquico proveniente de um complexo de causas, cujos sintomas pedem tratamento médico.
Há, evidentemente, certas afecções cerebrais que apresentam um número de sintomas de mitomania, nos quais as crianças mentem até a perversidade, lançando mão da pr´pria calúnia para satisfazer os seus apetites injuriosos. Dentre estas existem as que inventam que são maltratadas pelos pais, as que se machucam propositadamente para se apresentar como vítimas de surras maternas ou paternas. Passam como crianças-mártires, sobre as quais se derramam os olhares da piedade alheia. Existem os débies, os idosos, os degenerados, os viviados, os doentes, cuja mentira, nas suas infinitas variedades, é um sintoma, tal, a febre ou a erupção de uma moléstia à flor da pele. Estes casos, porém, não podem ser tratados aqui.
Assim considerando o problema, podemos ainda dizer que a verdade infantil nunca poderá ser a verdade do adulto. A criança não saberá jamais comunicar a sua verdade de homens, porque sente que não seria compreendida, posto que se trata de um mundo à parte, no qual é difícil penetrar.
Todo trabalho educacional será, portanto, o de descobrir as causas para corrigi-las. Sempre, ou quase sempre, a mentira viceja no cérebro da criança por defeitos de educação.
As mentiras infantis correspodem, quase sempre, às pr´prias mentiras sociais, à própria influência familiar
Vemos que a mentira acarreta problemas muito mais sérios do que em geral se pensa.
Além da mentira trivial, consistente, voluntária, a criança é suscetível de alertar a verdade através de erros de sugestões ou mesmo de uma maneira particular de ver ou de "sentir" a realidade. Em outros casos, passa a criança a mentir por mentir, acabando por mentir a si mesma.
Mas, tudo isso - salvo taras e degenescências - depende de nós, adultos, mestres das mentira infantil.

CRIANÇAS MENTIROSAS

















Walkiria Assunção
Segundo G. P. da Silva:Por que as crianças mentem? Por imitação? Por influência das pessoas mentirosas que as rodeiam? Ou as crianças mentem para se denfender das acusações que lhes fazem constantemente os adultos? É provável que esta última hipótese seja a mais aceitável.
As crianças possuem um verdadeiro "arsenal de armamento", o mais engenhoso, contra as "investidas" dos homens. A alma da criança não se abre assim por qualquer coisa aos olhod dos adultos. Menos poderosa na força agressiva, defende-se. Na defensiva, é como fortaleza intransponível.
So a psicologia profunda as penetra, a habilidade, a tática e não os ataques brutais. Assim, quando uma criança mente, não devemos dizer a viva voz:"Mentir é feio! Por que você mente? Se você mentir outra vez, eu "faço" e "aconteço""!..." São palavras absolutamente inúteisd. Servem apenas para aumentar a capacidade de mentir da própria criança.
Não será a pessoa que repreende a causa"de aquela criança ser tão mentirosa"? Quase sempre é. O temor, o medo dos pais, dos professores, ou mesmo de certos indivíduos que tem ascendência sobre um determinsado guri, provoca-lhe o hábito e depois o vício da mitomania.
O garoto(ou garota) começa, primeiramente pregando mentirinhas, indo depois, paulatinamente, das pequeninas às grandes e graves mentiras. Ao fim de certo tempo torna-se mestre na invencionice de fatos e ocorrências, complicando, não raro, a vida da família de que faz parte. Pode servir desse modo às mais desagradáveis intrigas e até mesmo aos crimes mais impressionantes.
Mentir faz parte, entretanto, da própria natureza humana. O primeiro homem que dormiu e sonhou, aprendeu, indiscutivelmente, a mentir... Os sonhos, cuja missão é satisfazer os desejos que não puderam ser realizados na vida real, compensam a realidade com a deliciosa mentira de que o mais absurdo dos nossos desejos foi"realmente" satisfeito.
A criança, a quem a mamãe negou mais um pedaço de manjar, sente-se em sonhos comendo o manjar inteirinho... O menino que adoeceu por causa de uma afecção dos intestinos, está em dieta rigorosa, sonha que, numa festa do seu vizinho, se fartou de sanduíches e doces de todos os paladares... Quando acorda está enjoado. É capaz de vomitar tantas iguarias, porque o estômago"acreditou" que aquilo tudo fosse verdade... So a realidade o contraria e o adverte da mentira pregada pela própria sabedoria da natureza.
Assim nasceu, com certeza, a mentira: com o sonho. O tão conhecido provérbio:"mente como um caçador" deve ter-se originado dos primitivos desejos do homem na luta titânica com os animais na chamada era da caça e da pesca. Ao voltar à caverna, depois de um dia em que todo o esforço não foi o bastante para conquistar as presas, ele sonha que as abateu em lances de heroismo, supreendendo o companheiro com a sua coragem inaudita.
Mas a natureza so é capaz de mentir para o bem do homem. Os desejos que os sonhos realizam são formas magníficas de reação da alma que quer, por esse meio, compensar as investidas da realidade.
A mentira, por esse aspecto conseguida, é a conquista do prazer, que a própria vida procura, em constantes conflitos com a realidade.
Se o homem ou a criança mentisse apenas para dar um pouquinho de felicidade à humanidade, então como seria bela e proveitosa a mentira.
Basta pensar, por exemplo, na ilusão que a Medicina da aos doentes sem cura. Até um tuberculoso, nos estertores da morte, confia e tem esperanças numa transfusão de sangue. A mentira do médico é quase divina. Divina é a obra que faz cessar as dores, disse Hipócrates. E a mentira - quantas vezes? - faz cessar as dores.
anatole France disse que o médico é uma loja de mentira, mas Miguel Couto acrescentou, com sabedoria: de abençoadas mentiras. Desse modo, a mentira da natureza é a mentira boa.
As crianças começam, portanto, a mentir sem maldade, a mentir para se defender. É no mundo dos grandes, de nós adultos, no qual se corrompe tudo, que elas encontram o lado perverso da mentira. Somos nós, então, que as ensinamos a mentir, a mentir prejudicialmente, descaradamente, cinicamente. "É preciso que Sicrano não venha aqui hoje, eu detesto Beltrano..." São frases que as crianças escutam constantemente e se supreendem com a contradição que elas encaram, ou melhor, com a hipocrisia com que elas são proferidas. Assim, Beltrano, aquem o papai ou a mamãe detesta, é tratado, quando se apresenta a um deles, com toda a amabilidade:"Oh, o senhor por aqui? Por que não tem aparecido? Estimamos muito que nos visite mais amiúde...' Pensem nos olhos supresos e escancarados do garoto que testemunha essa cena.
A Scrano, que não se esperava, diz o pai:"Olá, vai jantar conosco? Hoje, por sinal, tem até do doce que você gosta!" E assim por diante. Por mil e uma maneiras enfiamos na cabeça dos nossos filhos guris o lado mau da mentira humana.
Mlle. Dobre, num livro interessante que escreveu sobre a concepção da mentira entre escolares, concluiu que a criança mente:

  • por temor, 72,9% ;

  • por interesse, 7,6%;

  • por recriminações; 5,7%;

  • por à ficção, 3,5%;

  • por perversidade, 2,6%;

  • por altruísmo, 2,6%;

  • por preguiça, 3,8%;

  • por outras tendências; 1,4%.

    Todas essas percentagens foram rigorosamente pesquisadas e controladas estatisticamente.Vemos que, na sua grande maioria, a criança mente por temor. Isto é, por medo, pelo receio de ser castigada, motivo mais que suficiente para justificar a reação de defesa através da mentira.

Destarte, somos nós os responsáveis principais e não devemos, por isso, revoltar-nos contra esse feio hábito de nossos filhos. Antes pelo contrário. Cumpre aos pais saberem-se impor diante da alma infantil, antes de pretenderem corrigir os defeitos que nela encontram e que não são, via de regra, o reflexo de nossos pr´prios defeitos.

Qual a mãe que ja não pediu ao filho para não dizer isto ou aquili, quando o papai chegar? Ou então:'Olhe, meu filho, quando você falar com o Sr. Fulano, porte-se direitinho, hem? Diga que é estudioso, comportado...' Se ele é realmente estudioso, comportado, para que recomendar? Se não é, está ensinando o filho a dizer uma coisa por outra. Ou, numa palavra: a mentir.

Respeitar os pais e não temer os pais. É preciso que os filhos saibam que não devem mentir e que, contando a verdade, seja qual for, nada lhes sucederá de maior, senão o apoio de um"muito bem" por haverem dito corajosamente como determinado acontecimento se passou, embora com desvantagem para eles. Se agiram mal, devem ser observados por meios suasórios, mas convincentes, persuasivose justos:"Bem, você falou a verdade. Você deve sempre agir assim, isto é, dizer a verdade. Porém, você fez mal, foi injusto,etc."

Se temer aos pais, a criança mente, e como sabe que se for descoberta sofrerá com isso, trata de inventar, de fantasias, chegando a ponto de conquistar a verdadeira virtuosidade mítica, de ser um virtuose na mentira.